domingo, 13 de abril de 2008

Boneca de porcelana


Não passo de boneca de porcelana, frágil.
Não passo de marionete.
Segura-me. Não me deixes cair ou vou partir.
Vou partir-me em milhares de pequenos cacos.
Vou morrer, sem lágrimas.
Vou ser mais uma, varrida juntamente com o pó do chão.
Existem muits bonequinhas por ai. Aqui, ali, acolá.
Todas podem substituir-me. Todas podem fazer o mesmo que eu.
Sou mais uma. Mais uma boneca no mundo.
Sou uma boneca morena de cabelos castanhos, diferente dessas outras que vês por aí. Daquelas bonequinhas de olhos azuis loirinhas, com pele pálida e lábios vermelhos, de vestido cor-de-rosa.
Sou mais uma boneca, mas uma boneca diferente.
Não sou de corda, nem cor-de-rosa.
Não sou loirinha, nem tenho o cabelo entrançado.
Não tenho os lábios vermelhos, nem os olhos azuis.
Não uso vestidos até aos pés, só calças e mini-saias.
Não uso golas até ao pescoço, orgulho-me do meu decote.
Não uso lacinho na cabeça, mas pulseiras de cabedal.
Não uso sapatinho, só sapatilhas e botas.
De boneca de porcelana, só a fragilidade.
Talvez a cara da mesma idade, carinha de criança.
As meias pelos joelhos.
E que mais?
O facto de ser substituida, varrida depois de partir, junta com o indesejavel.
Talvez também a beleza.
Em nada delicada, mas o corpo bem esculpido, tal qual bonequinha.
Sou boneca de porcelana.
Mas não sou.
Às vezes, gostaria de ser.

3 comentários:

Nikita disse...

Todas somos bonecas de porcelana... todas podemos ser substituídas... todas partimos se nos deixam cair... mas TODAS TEMOS O NOSSO VALOR!

Marco Filipe disse...

muito bom 5*

"...fragil
e de louça
sem poderes
e de carne e osso; é assim que somos..."

muito obrigado pelas vistitas ao meu blog.

de todos os que aqui li este é o meu favorito, talvez por me identificar mais neste momento

Anónimo disse...

Sim, provavelmente por isso e