Às vezes preferia ter perdido toda a beleza à nascença. Não, não sou um anjo de belza incalculável, mas mesmo assim por vezes reparo em olhares furtivos (e outros nem tanto) e sussurros à minha passagem. Não tenho qualquer cuidado com a alimentação e mesmo assim consigo manter-me magra devido ao exercício que sempre pratiquei por diversão e não com a obcessão de ter um corpo apetecivel. O meu cabelo passa a vida desalinhado, vendo apenas a escova de manhã e sendo lavado 3 vezes por semana, sem mais nada. Mesmo assim é fino, liso (apesar de ter ligeiras ondulações que por vezes tomam jeitos suspeitos) e tem uma cor da qual me orgulho, apesar de não a saber classificar. Nasci com lábios carnudos que passam a vida secos e, mesmo assim, adoro-os. Os meus olhos são do mais comum, mas cada vez que reparo neles relembram-me o olhar de criança do meu avô. Não sou um anjo, mas não me posso queixar. Mas isso implica que os rapazes reparem em mim e, muitas vezes, que eu os magoe, mesmo sem querer. Fez-me ser assediada quando pequena, num momento que ainda hoje me persegue, apesar de nunca o ter confiado a ninguém. Fez-me sentir-me pressionada pelos olhares em minha volta. Fez-me desprezar os rapazes que atiram piropos para o ar com a esperança de alguma rapariga não os ignorar. Fez-me odiar quem me deseja pelo que pareço e não pelo que sou. Odeio ser como sou e ao mesmo tempo adoro-o...Vivemos numa Ditadura... imposta pela nossa rórpia Beleza...
