sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Simplicidade

Hoje vi um homenzinho sentado numa escadaria a ler uma qualquer revista, com a posição típica do macho português, de pernas bem abertas a cotovelos sobre os joelhos. A barriga de cerveja de sempre saliente sob uma estrutura baixa. Lia atentamente por entre os óculos. Parecia ignorar tudo o que o rodeava. Tão simples.
Passou um rapaz de dossier na mão com ar de estudioso, gordinho e de óculos grossos. Lia algo atentamente e sem reparar passou por um tipo com ar de bruto que lhe gritou algo imprecebivel. O meu estudioso passou para o outro lado da rua. O rapaz que tinha gritado algo antes começou a deitar ameaças para o ar, inda de seguida atrás do rapaz do dossier. Deixei de os ver, mas ouvi algo que se assemelhava a gestos violentos. O rapaz do dossier, esse, não o voltei a ver, mas o outro voltou calmamente para ao pé da namorada fascinada que se ria como se tinvesse acabado de ver algo divertidíssimo. O meu Português continuava a ler. Entretanto começaram a passar por mim pessoas e mais pessoas, e começei a perceber que aqueles corpos continham vida. Muitos passavam e olhavam-me pelo canto do olho sem pararem sequer. E lá continuava o homenzinho, ligado à sua revista. Mas, que são todas estas vidas aos meus olhos? Já nada me marca, já nada me choca, mas aquele simples homenzinho descontraído ficou a pairar-me na mente.

Afinal há esperança, ainda existem pessoas simples. Obrigado por me deixarem existir!

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